Em seus 25 anos, bonita, elegante, vaidosa, formada em geografia e muito
bem sucedida, afinal de contas cuidar da natureza e entender mudanças
climáticas era o que mais gostava de fazer. Fernanda havia dito que
casamentos não a comoviam muito e sendo assim decidira que tão cedo não
iria se casar. Namorados? Poucos, uns dois na verdade, mas foram
romances intensos para ela. Começou a amar de verdade aos 19 anos, o
nome dele era Gustavo e o amou de uma forma esplendorosa e quem sabe
ainda o amava.
Era um rapaz bonito, 27 anos e considerava-se
decidido. Namorou-a na sua juventude, era simpático, educado,
cavalheiro, o desejo de qualquer mulher. Mas o namoro não deu certo e
ambos decidiram terminar. No início ela colocava seu orgulho em cena e
namorá-lo não fazia muita diferença. Mas, com o passar do tempo, quando o
via novamente nas ruas (eles se encontravam como se não quisessem nada,
como que “por acaso”) se entreolhavam e viam que aquela história de
amor parecia não ter chegado ao fim. Ele a observava como se fosse
penetrar naqueles belos olhos castanhos claros (tão brilhantes quanto o
cintilar de uma estrela), era a paixão que ainda mexia em cada sentido
de seu corpo, ele a desejava, mas não admitia isso, seria o orgulho ou o
medo de amá-la novamente? Sim leitor, ainda existem pessoas que sentem
medo de amar, talvez por causa das conseqüências.
Fernanda ainda o
amava e não negava isso em momento algum, mas também não demonstrava
que estava disposta a voltar, aquele charme “não quero mais” enganava
qualquer homem, isso ela sabia fazer muito bem. O destino resolveu dar
uma ajudinha, os juntou novamente, não, não voltaram a namorar, nem
assumiram que ainda são apaixonados, apenas voltaram a conversar, a
dividir músicas, assistir aos filmes juntos...
Em um final de
tarde coberto por um pôr-do-sol belíssimo, onde as ondas do mar pareciam
dançar antes de chegar à beira da praia, lá estavam eles, apenas
estavam admirando aquela bela paisagem natural, digna de aplausos e
elogios. Coberta de dúvidas, tinha a sensação que só Gustavo poderia lhe
responder:
- Gustavo, acredita que o amor possa voltar?
Ele coberto de razão e se fazendo de “Não estou entendendo nada” responde:
- Amor que possa voltar? Em relação a que? Não entendo.
Fernanda continuou: - Ah... Em relação a nada, apenas me responde, acredita poder deixar de amar alguém e amá-lo novamente?
Gustavo: - Se isso é em relação a nós, te digo, eu não posso te amar novamente.
Fernanda:
- Não peço teu amor Gustavo, apenas deixa-me te amar da mesma forma que
te amei esse tempo todo, deixa-me continuar te olhando de longe e te
admirar, deixa-me ver aquele sorriso sem graça que você dá quando recebe
um elogio, deixa-me ouvir sua voz mesmo que seja pra dizer que não me
ama mais, deixa Gustavo, deixa-me, eu só te peço: Deixa-me fazer parte
de você...
Gustavo olhando para ela como se estivesse diante da sua
mais perfeita felicidade, respondeu: - Não gostaria que você continuasse
me vendo de longe, prefiro que você venha me tocar. Não quero que
apenas me veja sorrindo, mas vem dividir teu sorriso comigo, ouça-me, te
quero, te quero muito. Quando te digo que não posso amar novamente, não
é egoísmo, nem orgulho, entenda-me. Não posso te amar novamente porque
nunca deixei de te amar.
E com aquele sorriso de quem esperou muito
para escutar aquilo, Fernanda viu que na verdade o que intimidava
Gustavo era a insegurança de mostrar o amor que ele tanto tinha e
sentia. Com toda aquela sensação maravilhosa de estar com ele, sabia
agora mais do que nunca, que Gustavo era seu oposto, seu “Não” quando
ela queria dizer “Sim”, o som mais lindo de todas as notas musicais, seu
pensamento contrário, seu tudo e seu nada ao mesmo tempo, a frase que
faltava na letra da sua música preferida, seu momento mais bonito, o seu
certo e o seu errado. Sabe quando você fica feliz só em ver alguém?
Então.
Dizer que eles viveram felizes para sempre seria muita
modéstia minha, caro leitor, mas foram felizes sim, curtiram, se
divertiram, viveram, amaram, e a cada dia que se passava, iam se
apaixonando mais e mais, assim como quem não quer nada sabe? Como que
“Por acaso”...
Karoline Aveiiro