Outro dia, eu estava lendo o conto "Amor" daquela que foi uma grande escritora, Clarice Lispector. e confesso que sentí um pouco de inveja da maneira desnorteante e ao mesmo tempo "elegante" que a Clarice passa à ver o mundo. desnorteante pelo fato que ela cria dúvidas em relação à si mesma e em relação aos outros, e "elegante" no momento que ela defini o mundo, tão belo e tão imperceptível ao mesmo tempo.Ana, a personagem principal da obra, é uma mulher como outra qualquer, uma dona de casa simples, tem filhos, saber amar, e é amada. Um certo dia, ao ver um cego na rua, Ana percebe que a vida dela esse tempo todo, foi nada diante do cego, foi uma vida simples até demais, ele se sente feliz e triste ao mesmo tempo, ele passa a viver de contrastes, do belo e do feio, do céu e do inferno! A maneira como Clarice fala da natureza, é de uma forma tão bela e tão magnifica, que passamos a sentir nojo de nóis mesmo, nos tornamos mais pequenos do que já somos. O conto em si, fala da maneira que vivemos, sem olhar pros lados, sem olhar pra quem precisa mais do que nóis, e mesmo assim não reclamam de nada, são pessoas satisfeita com tudo e com todo, sentimento os quais não conseguimos perceber. Com a vida conturbada de dúvidas e receios, ana continua à viver, volta a ser aquela dona de casa simples, amando seus filhos e seu marido, mas com uma única diferença, ela ama mais ainda, ela torna-se uma pessoa mais cuidadosa, ela faz tudo que pode, ela faz seu papel, ela sabe amar... e isso não é pra qualquer pessoa.
{Karoline Aveiiro}
à seguir, um trecho da obra " Amor" de Clarice Lispector:
" E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.
Depois,
quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas,
ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade
estava adormecida
e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias?
Quantos anos
levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e
pisaria
numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia
aceitar
que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias
boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do
Jardim
Botânico.
Se
fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda
a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu
marido
diante do café derramado.
-
O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele
se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
-
Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado,
com olheiras.
Mas
diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção.
Depois atraiu-a a si, em rápido afago.
-
Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela."
{Clarice Lispector}